Em tudo dai graças !

Segunda Guerra Mundial, 1944, Alemanha de Hitler  
Campo de Concentração Feminino de Ravensbruck

De súbito, eu me sentei, batendo a cabeça contra a ripa da cama de cima. Algo havia picado minha perna.

 Pulga!  gritei.  Betsie, isto aqui está fervilhando de pulgas! […] Como vamos viver num lugar desses?

 Ensina-nos; ensina-nos, SENHOR.

Ela o dissera tão tranqüilamente que precisei de algum tempo para perceber que [a minha irmã] estava orando. Parecia que, para ela, não havia separação entre oração e vida.


 Corrie  exclamou ela repentinamente.  Ele já respondeu. Antes de pedirmos, como Ele sempre faz. Na Bíblia, hoje de manhã. Onde foi? Leia de novo aquele trecho. […]

 Aqui está: […] “Regozijai-vos sempre. Orai sem cessar. Em tudo, dai graças, porque esta é a vontade de Deus em Cristo Jesus para convosco”.*

 É isso, Corrie. Aí está a resposta. “Em tudo, dai graças…” Isso é tudo que podemos fazer. Podemos começar a dar graças a Deus agora mesmo por todas as coisas deste novo alojamento.

Olhei-a espantada, e depois corri os olhos por aquele quarto malcheiroso.


 Que coisas?  perguntei.

 Por termos sido mandadas para aqui juntas.

Mordi os lábios.

 Obrigada, SENHOR Jesus!

 E pelo que você tem nas mãos agora!

Olhei para a Bíblia.

 Ah, sim. Damos-Te graças, SENHOR, por não ter havido inspeção quando chegamos aqui. Obrigada por estas mulheres, aqui neste dormitório, que irão encontrar-Te através destas páginas.

 Isso!  ajuntou Betsie.  Obrigada pelo excesso de gente. Já que somos tantas, muitas vão ter a chance de ouvir a Tua Palavra.

Ela olhou-me esperando a minha aquiescência.

 Corrie!  insistiu.

 Ah, está bem. Obrigada pelo acúmulo de gente, que é tão incomodo, sufocante, importuno.

 Damos-Te graças  continuou Betsie serenamente  pelas pulgas e por…

Pelas pulgas? Isso já era demais!

 Betsie, nem Deus pode me fazer dar graças pelas pulgas.

 “Em tudo, dai graças”  recitou ela.  Aí não diz: “Dai graças nas situações agradáveis”. As pulgas fazem parte deste lugar em que Deus nos colocou.

E foi assim que, apertadas entre montes de camas-plataforma, demos graças pelas pulgas. Desta vez, porém, eu estava segura de que Betsie estava enganada.

Corrie ten Boom (1892-1983)
Escritora e resistente holandesa
Trecho do Livro: Refúgio Secreto

Deixe um comentário

Crie um website ou blog gratuito no WordPress.com.

Acima ↑